Uma das mais dramáticas lendas maçônicas é a tragédia de Hiran Abiff, um nobre artesão - algumas lendas o elevam a posição de alto arquiteto - e filho de uma viúva.
Ele se sacrificou para que o segredo por trás da construção do templo de Israel, construído pelo Rei Salomão, não caísse em mãos erradas.
Essa lenda inspira há séculos mestres maçons pelo mundo; e por partilharem de sentimentos por este ícone da da maçonaria mundial também chamam a si mesmo de Filhos da Viúva, tal como Hiran Abiff.
Mas quem era essa viúva em questão?
Supõe-se ser a mãe de Hiram Abiff, mas o que temos de informação bíblica sobrem Hiram é unicamente o que se encontra em Reis I - 7-13;
E enviou o rei Salomão um mensageiro e mandou trazer a Hirão de Tiro.
Era ele filho de uma mulher viúva, da tribo de Naftali, e fora seu pai um homem de Tiro, que trabalhava em cobre; e era cheio de sabedoria, e de entendimento, e de ciência para fazer toda a obra de cobre; este veio ao rei Salomão, e fez toda a sua obra. 1 Reis 7:13,14
E em II Crônicas, 10:
Então o Rei Hiram de Tiro, respondeu em uma carta que ele enviou a Salomão ... Despachei Hiram-abi, hábil artesão, dotado de entendimento, filho de uma das mulheres danitas, seu pai foi homem de Tiro. Ele trabalha em ouro, prata, bronze, ferro, pedra e madeira; sabe fazer tecidos de linho fino e de fios de lã púrpura, azuis e vermelha; é perito também em obras de entalhe e sabe executar qualquer desenho que lhe seja apresentado. Ele trabalhará com os seus artesãos e com os artesãos do rei Davi, o seu ilustre pai.”
Representação de Hiram Abiff por Pierre Mejanel
Não há maiores informações sobre Hiram Abiff, muito menos sobre sua mãe.
Entendemos que boa parte da lenda que permeia o imaginário maçônico foi introduzido por meio de um caráter simbólico e iniciático para o desenho dos graus da ordem por James Anderson (1679-1739).
Simbolismo Iniciático
Como na maçonaria especulativa, as expressões e símbolos tem uma teia filosófica, esotérica e até mística envolvida, vale a pena embarcar em uma reflexão oculta sobre a verdadeira Viúva.
Ainda no primeiro Grau é dito que o iniciado "recebe a luz".
Ora, quem senão "A Mãe" nos Dá a Luz?
No mundo físico a Pequena Mãe, na senda iniciática a Grande Mãe.
O termo Filhos da Viúva não é em vão, pois assim eram chamados os iniciados nos Mistérios Egípcios (da obra De Iside et Osiride, de Plutarco), os mistérios de Isis e Osíris, qual Isis era viúva de seu esposo Osíris, morto por Seth e seus iniciados Filhos da Viúva.
Para os Gnósticos Cainitas, Balkquis a rainha de Sabá, quando foi visitar Israel teria feito alianças e estava prometida para casamento com o Rei de Israel, mas se apaixonou pelo artesão e alto arquiteto do templo, Hiram Abiff com o qual sustentou um secreto e breve romance; mas este romance durou o suficiente para que ela pudesse engravidar do amante.
A traição de Hiram foi o motivo de sua morte e seu filho nascido de Balkquis, tornou-se o Filho da Viúva.
Rainha Balkquis, por Charles Gonold
Justificativa Histórica
Há uma também possível alusão histórica à Ordem Templária, órfã de seu grão mestre Jaques De'Moley, logo seus filhos/iniciados seriam filhos de uma Ordem Viúva.
Como também há relação aos partidários dos Stuarts - família real escocesa refugiada na França - órfã após a decapitação de Carlos I, seu rei pela corte Inglesa.
Mas neste momento, estamos interessado a investigar outros segmentos desta iconografia...
O Desvelar da Face Feminina da Divindade.
O templo maçônico, é uma réplica do Templo de Israel, e assim como as Catedrais Católicas erguidas também por maçons operativos, é alusivo ao corpo de Deus que é a Igreja.
A igreja é a representação cristã da eterna de muitos nomes.
A Deusa, aquela quem nos dá a luz, presente desde o início, velada desde o início; subjugada, esquecida, moralmente violada e totalmente deturpada pelos seus próprios filhos.
Ela é que é a doadora da forma - Binah e Gaia, recebe a forma bruta (nós) e nos dá forma segundo suas leis(loja/vida), tal como a Primeira Grande Restrição dos Cabalistas , nos nutre e nos fortalece para um dia nos encontrarmos com o Pai.
Onde está o Pai?
"Pai nosso que estais no está no céu...(...)"
O pensamento dos povos originários, xamãs e indígenas, não difere muito das modernas e complexas metáforas dos gnósticos.
"A terra é nossa mãe e nos deu nosso corpo, no céu está nosso pai que nos deu nosso espírito"
Cacique Oponeré gavião kyikatejê.
Há uma clara correlação entre os mitos religiosos de todo o globo, e isso deixa os estudiosos de religião comparada muito felizes.
Por que toda religião possui mitos que cifram seus ensinamentos e traduzem seus grandes mistérios
Sol, Céu e o Deus Sacrificado
A psicologia analítica de Jung nos ensina a observar a figura paterna como a estabelecedora dos limites do socialmente aceito, a disciplinadora.
Nesse sentindo, extrapolamos para uma perspectiva metafísica, onde alocaremos o Sol como a representação masculina na natureza.
É o Sol que dita a temporalidade, do dia e da noite, das estações do ano e os ciclos da natureza.
O Sol é o Senhor do Tempo e Pai dos inícios e finais. (o alfa e o ômega)
O Sol também preenche a metáfora do sacrifício, o qual o deus cristão crucificado incorpora.
Pois ele "doa" suas energias para as sementes da terra, e na medida que elas se fortalecem ele morre, para ressuscitar um dia, e uma vez mais fazer a roda girar.
Este é o desvelar da face masculina da divindade.
Ele nos lembra da fugacidade da vida, mas também das leis morais pois ele é o disciplinador.
Nos lembra da importância do Legado, da herança que deixaremos nesta terra.