terça-feira, 19 de janeiro de 2021

Os Filhos da Viúva e o Desvelar da Face Masculina da Divindade.


Uma das mais dramáticas lendas maçônicas é a tragédia de Hiran Abiff, um nobre artesão - algumas lendas o elevam a posição de alto arquiteto -  e filho de uma viúva. 

Ele  se sacrificou para que o segredo por trás da construção do templo de Israel, construído pelo Rei Salomão, não caísse em mãos erradas.

Essa lenda inspira há séculos mestres maçons pelo mundo; e por partilharem de sentimentos por este ícone da da maçonaria mundial também chamam a si mesmo de Filhos da Viúva, tal como Hiran Abiff.


Mas quem era essa viúva em questão?


Supõe-se ser a mãe de Hiram Abiff, mas o que temos de informação bíblica sobrem Hiram é unicamente o que se encontra em Reis I - 7-13;
E enviou o rei Salomão um mensageiro e mandou trazer a Hirão de Tiro.
Era ele filho de uma mulher viúva, da tribo de Naftali, e fora seu pai um homem de Tiro, que trabalhava em cobre; e era cheio de sabedoria, e de entendimento, e de ciência para fazer toda a obra de cobre; este veio ao rei Salomão, e fez toda a sua obra. 
1 Reis 7:13,14 
E em II Crônicas, 10:
Então o Rei Hiram de Tiro, respondeu em uma carta que ele enviou a Salomão ... Despachei Hiram-abi, hábil artesão, dotado de entendimento, filho de uma das mulheres danitas, seu pai foi homem de Tiro. Ele trabalha em ouro, prata, bronze, ferro, pedra e madeira; sabe fazer tecidos de linho fino e de fios de lã púrpura, azuis e vermelha; é perito também em obras de entalhe e sabe executar qualquer desenho que lhe seja apresentado. Ele trabalhará com os seus artesãos e com os artesãos do rei Davi, o seu ilustre pai.”



Representação de Hiram Abiff  por Pierre Mejanel

Não há maiores informações sobre Hiram Abiff, muito menos sobre sua mãe.


Entendemos que boa parte da lenda que permeia o imaginário maçônico foi introduzido por meio de um caráter simbólico e iniciático para o desenho dos graus da ordem por James Anderson (1679-1739). 



Simbolismo Iniciático


Como na maçonaria especulativa, as expressões e símbolos tem uma teia filosófica, esotérica e até mística envolvida, vale a pena embarcar em uma reflexão oculta sobre a verdadeira Viúva.


Ainda no primeiro Grau é dito que o iniciado "recebe a luz".
Ora, quem senão "A Mãe" nos Dá a Luz? 
No mundo físico a Pequena Mãe, na senda iniciática a Grande Mãe.


O termo Filhos da Viúva não é em vão, pois assim eram chamados os iniciados nos Mistérios Egípcios (da obra De Iside et Osiride, de Plutarco), os mistérios de Isis e Osíris, qual Isis era viúva de seu esposo Osíris, morto por Seth e seus iniciados Filhos da Viúva. 

Para os Gnósticos Cainitas, Balkquis a rainha de Sabá, quando foi visitar Israel teria feito alianças e estava prometida para casamento com o Rei de Israel, mas se apaixonou pelo artesão e alto arquiteto do templo, Hiram Abiff com o qual sustentou um secreto e breve romance; mas este romance durou o suficiente para que ela pudesse engravidar do amante.

A traição de Hiram foi o motivo de sua morte e seu filho nascido de Balkquis,  tornou-se o Filho da Viúva.


Rainha Balkquis, por Charles Gonold



Justificativa Histórica

Há uma também possível alusão histórica à Ordem Templária, órfã de seu grão mestre Jaques De'Moley, logo seus filhos/iniciados seriam filhos de uma Ordem Viúva.

Como também há relação aos partidários dos Stuarts - família real escocesa refugiada na França - órfã após a decapitação de Carlos I, seu rei pela corte Inglesa. 

Mas neste momento, estamos interessado a investigar outros segmentos desta iconografia...



O Desvelar da Face Feminina da Divindade.


O templo maçônico, é uma réplica do Templo de Israel, e assim como as Catedrais Católicas erguidas também por maçons operativos, é alusivo ao corpo de Deus que é a Igreja. 

A igreja é a representação cristã da eterna de muitos nomes.

A Deusa, aquela quem nos dá a luz, presente desde o início, velada desde o início; subjugada, esquecida, moralmente violada e totalmente deturpada pelos seus próprios filhos.

Ela é que é a doadora da forma - Binah e Gaia,  recebe a forma bruta (nós) e nos dá forma segundo suas leis(loja/vida), tal como a Primeira Grande Restrição dos Cabalistas , nos nutre e nos fortalece para um dia nos encontrarmos com o Pai. 


Onde está o Pai?


"Pai nosso que estais no está no céu...(...)" 

O pensamento dos povos originários, xamãs e indígenas,  não difere muito das modernas e complexas metáforas dos gnósticos.

"A terra é nossa mãe e nos deu nosso corpo, no céu está nosso pai que nos deu nosso espírito" 
Cacique Oponeré gavião kyikatejê.

Há uma clara correlação entre os mitos religiosos de todo o globo, e isso deixa os estudiosos de religião comparada muito felizes.

Por que toda religião possui mitos que cifram seus ensinamentos e  traduzem seus grandes mistérios 


Sol, Céu e o Deus Sacrificado



A psicologia analítica de Jung nos ensina a observar a figura paterna como a estabelecedora dos limites do socialmente aceito, a disciplinadora.

Nesse sentindo, extrapolamos para uma perspectiva metafísica, onde alocaremos o Sol como a representação masculina na natureza.
 
É o Sol que dita a temporalidade, do dia e da noite, das estações do ano e os ciclos da natureza.

O Sol é o Senhor do Tempo e Pai dos inícios e finais. (o alfa e o ômega)

O Sol também preenche a metáfora do sacrifício, o qual o deus cristão crucificado incorpora.

Pois ele "doa" suas energias para as sementes da terra, e na medida que elas se fortalecem ele morre, para ressuscitar um dia, e uma vez mais fazer a roda girar. 

Este é o desvelar da face masculina da divindade.

Ele nos lembra da fugacidade da vida, mas também das leis morais pois ele é o disciplinador.

Nos lembra da importância do Legado, da herança que deixaremos nesta terra.

Todos os começos tem finais, todos os finais são começos.