terça-feira, 31 de outubro de 2023

NASCIMENTO

NASCIMENTO 



"Eu era o mundo o qual eu andava 


E o que vivi e senti 


Não veio de nada se não de mim"




Imagem gerada a partir do criador de imagens do Bing.







Das trevas profundas 


Uma luz então nasceu 


Sem saber de si mesma 


Com sombras floresceu 


 


Percorrendo veloz 


Distâncias eternas 


Com alma e voz 


Distâncias internas 


 


Não se conheciam  


Nem se pareciam 


Mas sabiam... 


 


Luz e escuridão 


Tão perto e distante 


Presas na solidão 


De cada instante 


 


Mas ao olhar para si 


Encontraram uma à outra 


E viram que havia uma espectadora 


Admiradora  


Harmonizadora 


 


Um sentimento estranho então surgiu 


Uma ponte, um caminho, uma direção se abriu 


Despertou um encanto 


Que lemos neste conto 


 


O que faltavam em um no outro estava 


Ela se completava  


E realizava o seu afazer 


Pois sabia, o seu pleno ser 


 


Com o tempo não bastava saber 


Precisava entender, ser e viver. 


Se começou a querer. 


Ter 


 


"Oh luz, tu me têm, me consomes se vem / mas te quero também. 


 


"Oh sombra, por ti eu me vi, por ti eu também sofri / mas venha e perfaça, esta dor desfaça. 


 


Em um rompante, ousou 


A paixão despertou  


Seu coração vibrou gerando calor 


Uma grande explosão 


O universo abalou 


 


As águas primeiras 


Refletiram em seu lugar 


E se lembram desse amar 


Como a brisa sobre o mar  


Como a luz de fogueiras 


 


O universo se formou como fruto de uma flor 


Com beleza e ardor 


Como é lindo o amor 


 


E aqui eles se encontram 


Em cada ser, em cada um 


Em cada som e o que é comum 


 


Foi assim que vi, 


O elo que tudo contém.


E que está em mim também;


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O Nascimento - Gabriel Furtado


Outono amazônico, 31/10/2023.

sexta-feira, 8 de setembro de 2023

VIDA

 


VIDA


De dois tu vieste,

Mas nenhum levarás


Eles permanecerão com quem ficou para trás,

Descanse em paz, até um novo começo.

Onde terás dor e amor, desde berço.


O avesso de um o outro é,

As duas faces de uma sábia mulher.

Ela se chama vida.


E sua lei é alegria;

Sua voz sinfonia;

Seus mistérios, poesia.


Chuva e calor

O amor e a dor.


De dois tu vieste, mas nenhum levarás.

Eles permanecerão com quem ficou para trás.


Gabriel Furtado;

Outono amazônico, 08 de setembro de 2023.

terça-feira, 30 de maio de 2023

SOBRE A LIBERDADE

SENHORA LIBERDADE, ABRE AS ASAS SOBRE MIM.


De tempos em tempos medito sobre um conceito que acho importante significar e/ou ressignificar.


Há algum tempo me debruço sobre o conceito de liberdade, tal como nos foi ensinado; na verdade pouco nos foi ensinado sobre liberdade e mais sobre nossos limites ou restrições.


"Não faça isso! Faça aquilo!" 


Blue bird - Charles Bukowski (ilustração autor desconhecido)


Então nos aventuramos em nossa adolescência descobrindo prazeres e pequenas alegrias que nos fazem nos sentir vivos, aprendendo mais sobre si e sobre o mundo, despertando locais em nosso eu antes não explorados, vendo também que existe algum prazer em quebrar pequenas regras.


Quando viajamos para um lugar novo e nos distanciamos dos afazeres rotineiros e experenciamos utilizar o "olhar de turista" para com o lugar que nos cerca; quando estamos ao lado de pessoas que amamos e nos aceitam como somos; quando estamos dirigindo e sentimos o sereno vento que sopra sobre nossos cabelos. Quando compramos algo novo ou iniciamos algo que verdadeiramente nos toca, quando terminamos um ano letivo ou quando saímos de um expediente de trabalho exaustivo.


Quando escolhemos fazer algo que realmente queremos e de forma consciente.


Experimentar a liberdade é um estado de êxtase onde uma situação externa encontra com um sentimento interno e ocorre um ato de amor em nós mesmos.


Normalmente aprendemos a experimentar a liberdade na adolescência, mas existem tantas formas de encontrar com esta deusa, por meio de diferentes conceitos e experiências que não caberiam em apenas uma vida, que dirá na pequena prosa solitária deste blog. 


No entanto ainda esbarramos com uma questão normativa social. Não podemos realizar todas as nossas vontades, certo?


Conceituo liberdade como: o estado onde o indivíduo pode a partir de sua consciência tomar livre decisão sobre um tema.


É aqui que descemos para uma senda mais profunda, pois ao falar de consciência, devemos falar da inconsciência. (logo mais no tópico abaixo)


Retomo o pensamento sobre liberdade com a premissa de que a nossa liberdade está vinculada à nossa consciência.  


"Pois não é possível se libertar do que não temos consciência."


Me torno aflito quando penso sobre isso pois jamais serei livre, visto que a onisciência é um tabu restrito apenas aos deuses (risos). 


Vejo essa premissa como um dogma, pois nossa liberdade acaba onde também acaba nossa consciência. Com Ciência, onde eu tenho Conhecimento daquilo que possuo e onde estou.


Esbarramos uma vez mais no antigo fruto proibido, o fruto do conhecimento.



Melanie Klein foi uma psicanalista austríaca(1882-1960). Ela foi uma das principais seguidoras de Sigmund Freud, mas também desenvolveu sua própria teoria psicanalítica. Ela foi pioneira na criação da psicanálise infantil, usando a técnica do brincar para interpretar as fantasias inconscientes das crianças. 


Todas as vezes que emergimos profundo e questionamos os valores que nos aprisionam entramos em conflito com estruturas de cerceamento que nos foram impostas e que nós mesmos nos colocamos.

 

Ocorre um conflito existencial e acabamos nos distanciando do que nos aprisiona (ou não...). Esse mito é muito bem ilustrado na alegoria bíblica do Jardim do Éden e foi utilizado de maneira brilhante para explicar a individuação humana na teoria de Melanie Klein sobre psicologia infantil.


Esse conceito também é explorado no "clássico moderno" Matrix (1999), sobre como o mundo no qual os personagens vivem é uma ilusão e sobre como existem estruturas - programas - feitos para manter o controle daquele mundo. Curioso que o filme também fala de pessoas conscientes de onde estão mas que  ainda sim preferem o conforto desta doce ilusão.


 Matrix (1999), a usurpada cena da escolha das pílulas: 
azul para ilusão, vermelha para a verdade.



O conhecimento eleva a consciência, mas ele não trabalha sozinho é preciso que ele seja trabalhado, alimentado e compartilhado. Ele precisa ser PRATICADO.


De nada adianta terabytes de conhecimento armazenado no SSD da mente humana mais brilhante, se este conhecimento não for utilizado.... e vale lembrar utilizado de forma construtiva. Existem mentes brilhantes que trabalham para fins sombrios organizando e orquestrando situações para benefício próprio em detrimento de uma melhoria coletiva.


Longe de mim qualquer altruísmo cristão que venha ser interpretado nas minhas palavras, mas se somos iluminados pela luz da consciência é nosso dever espalhar essa luz para quem a desejar, não praticando discursos proselitistas sobre qualquer crença, filosofia ou posição política; mas sim através dos nossos atos. Seja a mudança que você quer ver no mundo (sim eu sei que é clichê).


A chama da liberdade é um direito nosso de nascença e somos convocados todos os dias para reivindica-lo, e somente a chama que brota no nosso mais profundo ser que pode nos guiar até o nosso destino. A nossa verdadeira vontade, que reside na escura caverna do inconsciente



O INCONSCIENTE.


A consciência, julgo ou juízo, penso que é uma das mais nobres das faculdades psíquicas.


É através da consciência que organizamos racionalmente os nossos sentimentos, é a consciência que nos permite trazer para a realidade as nossas próprias convicções. Ela é o filtro de mundo inconsciente para o mundo exterior, ela é o entre mundos dentro do qual trabalhamos aqui e agora.


Se me permite extrapolar caro leitor.... faço o comparativo da consciência como uma espécie de portal que permite que chegue ao mundo apenas o cognoscível daquele oceano primitivo que é o inconsciente. 


Abstraio o conceito de inconsciente como se fosse  uma dimensão espelho, no qual restam todos os pequenos fragmentos observados pela mente consciente em um caldeirão de símbolos, conceitos, sentimentos, traumas, complexos, recalques, potenciais, latentes, deuses e deusas; tudo que é, será  ou foi dentro da alma; o próprio Caos Cósmico dentro de nós. E isso tudo é filtrado pelo consciente.


Ora, não apreenderíamos jamais a complexidade do inconsciente visto que proponho que este está em constante expansão tal como o universo físico, impulsionado por uma energia escura de origem desconhecida.


E o consciente é um pequeno foco de luz nesse mar de coisas belas e selvagens, luminosas e também perigosas. É como tentar ver todas as estrelas com um único telescópio amador.




A LIBERDADE  AGORA ME PARECE SER ALGO INTERNO.


Charles Bukowski - Pássaro azul.


" Existe um pássaro azul em meu coração.
Ele quer sair, mas eu sou duro com ele.
Eu digo: fique aí, não vou deixar que ninguém te veja"

- Eu adoro como o Bukowski fala de coisas profundas de maneira chula (risos).


Me vejo hoje pensando na liberdade como uma coalisão entre a vontade mais profunda em seu coração e o mundo ao redor. A razão entre essas duas coisas mostra o "caminho da liberdade". 


No núcleo mais profundo do seu inconsciente, repousa ele, alguns chamam de Sagrado Anjo Guardião, outros de Deus, outros de EU SOU, eu empresto o termo da psicologia Jungiana e chamo de Self.


Neste recôndito lugar  repousa o núcleo da estrela cintilante que brilha através de você, o self é a característica mais pura de quem você é. Ela é bela mas sua beleza reside não na estética, mas na potência, o self é extremamente poderoso e conectar-se a ele é a experiência mística dos grandes gurus,  avatares e mestres ascencionados que ao longo de eras surgem na humanidade para lembrar do amor.


O contato com o self é brutal, pois ele é uma potência criativa da natureza, a partir dele nascem todas as figuras e estruturas do universo inconsciente interior. Sua beleza se compara ao poder de um vulcão que após arrasar a terra, fertiliza e propicia vida.


O caminho da liberdade nesta vida é orientado por este self, ele ensina a verdadeira vontade e dela nasce o amor pelo caminho. O amor pelo destino, amor fati de Nietzsche que nos leva à nossa melhor versão, super humano, parafraseando Assim falou Zaratustra.  


Assim falou Zaratustra - Arte conceitual.


Percebo que a liberdade idealizada de verdade não existe, é a crença em uma cerca invisível que não nos permite atravessar nossos próprios limites.


A vontade ilimitada não pode ser realizada pois existem restrições reais: condição financeira, vontade alheia, implicações legais etc...


A verdadeira vontade ela deve produzir amor.


Hoje tenho pensado sobre outros temas como o amor, o destino, o poder, a paz e a felicidade. Espero poder compartilhar todos eles por aqui.


Deixo com vocês uma canção que amo, ouvi pela primeira vez na voz de Jorge Vercillo, que me levou a conhecer a versão original. Sinto ela quase como uma oração. 



Canção de Wilson Moreira - Senhora Liberdade.


Senhora Liberdade, abre suas asas sobre mim...

"Amar foi meu delito, mas foi o sonho mais bonito.
Agora estou no fim, abre as asas sobre mim"
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Se por amor errei, hoje sou livre.
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Será que aqueles que não queriam sair da matrix não estavam certos? 

sexta-feira, 21 de abril de 2023

SOBRE PRANAYAMA - ANOTAÇÕES PESSOAIS SOBRE A LEITURA DO LIVRO: RAJA YOGA DO VIVEKANANDA



Prana como flor, imagem gerada pela IA: Deep Dream Generator. 01 ago 2022

PRANA E A VIDA

Costumamos associar o pranayama como a prática do controle da respiração, mas ela é a prática do controle do prana através da respiração.


O prana está além da simples respiração.


Ele é a energia por trás de todas as coisas, inclusive da respiração.


Na explosão de uma estrela, no florescer de uma flor, até na síntese de uma molécula existe uma manifestação de prana.


O prana é a energia no qual se operam as coisas neste universo.


Até a matéria que está ao nosso redor é prana vibrando em uma determinada frequência.




O tempo acima e abaixo - arte gerada pela IA Deep Dream Generator.



E assim como os peixes abissais não podem subir muito à superfície pois se fragmentariam na superfície da água, nós que também somos constituídos de prana, não podemos adentrar em padrões vibratórios diferentes daqueles que estamos acostumados (sejam eles mais sutis ou mais denso) pois não aguentaríamos com estes corpos.


Há a crença de que os espíritos poderiam estar neste outro plano vibratório, ainda não acessível para nós. 



No entanto vejo que isso não deve se resumir a isso, visto que não nos cabe especular sobre outras dimensões, sem ainda solver tudo que temos nesta. Educar a matéria, manifestar e condensar o sutil para que assim fazer a nossa sorte nesta vida, co-reger a criação e sermos criadores também em vida tal como os deuses.



A arte de manipular a energia sutil para densa, aquela que é manifesta para o mundo material; é o que chamo por magia.



O pranayama age diretamente sobre o que penso sobre magia.



O entendimento e interação desse fluxo contínuo de energia a fim de canalizar nossos profundos intentos é a base da magia.







quarta-feira, 1 de fevereiro de 2023

A Astrum Argentum: método científico na religião?

UM PEQUENO RELATO... 

Ao longo de minha trajetória como estudante do misticismo fui confrontado com diversos questionamentos sobre a existência de um plano espiritual, e até da própria existência de Deus. 

No entanto ao longo de minha caminhada encontrei um sistema interessante o qual busquei conhecer. Até o momento acho lúcido e salutar seus princípios e aplicações, segue com vocês um trecho de um texto que escrevi falando um pouco sobre a Astrum Argentum, ordem a qual caminho em passos lentos.


A espiritualidade pode ser definida superficialmente como o conjunto de valores básicos que norteiam o contato de uma pessoa com uma possível experiência metafísica, fantástica - phantastikós, de domínio da imaginação; absurda - absurdum, foram da razão. 


Esta experiência é extremamente íntima e subjetiva e usualmente conecta o ser em um propósito existencial ou noção de completude, por isso pode ser igualmente complexa, no entanto, para que esta experiência se torne completa ao ser, existe a necessidade de ser apreendida pelos domínios do intelecto, através de estruturas metafóricas que criam uma lente para se observar este fenômeno. 


 Por milhares de anos as religiões hegemônicas se apropriaram dessas lentes para uma experiência metafísica, preenchendo o consciente e inconsciente através de um rico arsenal simbólico, no qual sua ampla maioria repousa emprestada de outras culturas, por vezes adaptado ao seu próprio contexto. 

A influência exercida munia de poder os sacerdotes que conduziam e canalizavam estas experiências, e ao seu tempo, o poder levou à corrupção destes. E durante algumas centenas de anos a corrupção dos sacerdotes levou à um dos períodos mais sombrios da história da humanidade, e as sombras que surgiram nessa idade de trevas sombrearam com ignorância a consciência humana, deixando profundas marcas no inconsciente coletivo. 

 Dentro de um movimento síncrono ao alvoroço teocêntrico do medievo, uma corrente político-filosófica foi fincando raízes cada vez mais profundas em direção ao centro luminoso do que parecia ser o coração de uma nova era. 
Surgia o Iluminismo, o nascimento da ciência, em contrapartida ao que se postulava como imutável pelo antigo regime, pois as premissas iluministas: a busca pelo saber e a liberdade de pensamento, eram lâminas afiadas que sangraram as verdades postuladas e que não mataram, mas permitiram que de dentro deste enorme Titã, saíssem os deuses da próxima geração.



A ciência através dos seus métodos e experimentos, se distanciando de todos os pressupostos e buscando provas factuais para tornar cognoscível o castelo da ciência que a natureza-caos criou, acabou retomando sob uma nova ótica valores ancestrais há muito perdidos, ocultos, proibidos: a curiosidade e a dúvida; sementes da antiga Árvore do Conhecimento. 


Mas como todo adolescente busca firmar valores que os diferenciem dos pais a ciência brigou com a religião, o método científico tomou caminhos distintos fez-se valer na sociedade moderna, revolucionando em diversas maneiras o funcionamento do mundo atual, alguns filósofos até a acusam de assassinato - Deus está morto!, eles diziam, e quem o matou? 




 É muito possível que há muito já houvesse algo semelhante nascendo e morrendo ao longo das eras, mas foi dentro deste cenário, e de um conturbado período da história que nasceu a premissa: O Método da Ciência, o Objetivo da Religião. A A∴ A∴ , como uma filha deste casamento inusual, se propõe a ser um sistema que utiliza o sistema a avaliação minuciosa de resultados, experimentação de técnicas, repetições e registro do que foi positivo e negativo; para promover autoconhecimento e elevação da consciência, e quem sabe vaguear através de uma experiência metafísica. 


 Esse sistema se dá através da progressão sistemática de graus analogamente relacionados à Árvore da Vida cabalística, onde em cada grau uma compreensão é almejada, baseada no que metaforicamente aquele estágio representa. 



Cada estágio é um fruto da árvore da vida e está relacionado à um mistério universal, uma face do divino e estágios da consciência humana; a progressão através deste sistema em conjunto com demais tarefas associadas treina o iniciado a contemplar por si só o que deveria vir a ser o divino dentro e/ou fora de si. 

 O objetivo da religião, o contato, comunhão com uma forma maior de consciência universal para promover a elevação espiritual e completude do ser através do iluminismo científico, o método da ciência, teste, experimentação e evidências.