SENHORA LIBERDADE, ABRE AS ASAS SOBRE MIM.
De tempos em tempos medito sobre um conceito que acho importante significar e/ou ressignificar.
Há algum tempo me debruço sobre o conceito de liberdade, tal como nos foi ensinado; na verdade pouco nos foi ensinado sobre liberdade e mais sobre nossos limites ou restrições.
"Não faça isso! Faça aquilo!"
Então nos aventuramos em nossa adolescência descobrindo prazeres e pequenas alegrias que nos fazem nos sentir vivos, aprendendo mais sobre si e sobre o mundo, despertando locais em nosso eu antes não explorados, vendo também que existe algum prazer em quebrar pequenas regras.
Quando viajamos para um lugar novo e nos distanciamos dos afazeres rotineiros e experenciamos utilizar o "olhar de turista" para com o lugar que nos cerca; quando estamos ao lado de pessoas que amamos e nos aceitam como somos; quando estamos dirigindo e sentimos o sereno vento que sopra sobre nossos cabelos. Quando compramos algo novo ou iniciamos algo que verdadeiramente nos toca, quando terminamos um ano letivo ou quando saímos de um expediente de trabalho exaustivo.
Quando escolhemos fazer algo que realmente queremos e de forma consciente.
Experimentar a liberdade é um estado de êxtase onde uma situação externa encontra com um sentimento interno e ocorre um ato de amor em nós mesmos.
Normalmente aprendemos a experimentar a liberdade na adolescência, mas existem tantas formas de encontrar com esta deusa, por meio de diferentes conceitos e experiências que não caberiam em apenas uma vida, que dirá na pequena prosa solitária deste blog.
No entanto ainda esbarramos com uma questão normativa social. Não podemos realizar todas as nossas vontades, certo?
Conceituo liberdade como: o estado onde o indivíduo pode a partir de sua consciência tomar livre decisão sobre um tema.
É aqui que descemos para uma senda mais profunda, pois ao falar de consciência, devemos falar da inconsciência. (logo mais no tópico abaixo)
Retomo o pensamento sobre liberdade com a premissa de que a nossa liberdade está vinculada à nossa consciência.
"Pois não é possível se libertar do que não temos consciência."
Me torno aflito quando penso sobre isso pois jamais serei livre, visto que a onisciência é um tabu restrito apenas aos deuses (risos).
Vejo essa premissa como um dogma, pois nossa liberdade acaba onde também acaba nossa consciência. Com Ciência, onde eu tenho Conhecimento daquilo que possuo e onde estou.
Esbarramos uma vez mais no antigo fruto proibido, o fruto do conhecimento.
Melanie Klein foi uma psicanalista austríaca(1882-1960). Ela foi uma das principais seguidoras de Sigmund Freud, mas também desenvolveu sua própria teoria psicanalítica. Ela foi pioneira na criação da psicanálise infantil, usando a técnica do brincar para interpretar as fantasias inconscientes das crianças.
Todas as vezes que emergimos profundo e questionamos os valores que nos aprisionam entramos em conflito com estruturas de cerceamento que nos foram impostas e que nós mesmos nos colocamos.
Ocorre um conflito existencial e acabamos nos distanciando do que nos aprisiona (ou não...). Esse mito é muito bem ilustrado na alegoria bíblica do Jardim do Éden e foi utilizado de maneira brilhante para explicar a individuação humana na teoria de Melanie Klein sobre psicologia infantil.
Esse conceito também é explorado no "clássico moderno" Matrix (1999), sobre como o mundo no qual os personagens vivem é uma ilusão e sobre como existem estruturas - programas - feitos para manter o controle daquele mundo. Curioso que o filme também fala de pessoas conscientes de onde estão mas que ainda sim preferem o conforto desta doce ilusão.
O conhecimento eleva a consciência, mas ele não trabalha sozinho é preciso que ele seja trabalhado, alimentado e compartilhado. Ele precisa ser PRATICADO.
De nada adianta terabytes de conhecimento armazenado no SSD da mente humana mais brilhante, se este conhecimento não for utilizado.... e vale lembrar utilizado de forma construtiva. Existem mentes brilhantes que trabalham para fins sombrios organizando e orquestrando situações para benefício próprio em detrimento de uma melhoria coletiva.
Longe de mim qualquer altruísmo cristão que venha ser interpretado nas minhas palavras, mas se somos iluminados pela luz da consciência é nosso dever espalhar essa luz para quem a desejar, não praticando discursos proselitistas sobre qualquer crença, filosofia ou posição política; mas sim através dos nossos atos. Seja a mudança que você quer ver no mundo (sim eu sei que é clichê).
A chama da liberdade é um direito nosso de nascença e somos convocados todos os dias para reivindica-lo, e somente a chama que brota no nosso mais profundo ser que pode nos guiar até o nosso destino. A nossa verdadeira vontade, que reside na escura caverna do inconsciente.
O INCONSCIENTE.
A consciência, julgo ou juízo, penso que é uma das mais nobres das faculdades psíquicas.
É através da consciência que organizamos racionalmente os nossos sentimentos, é a consciência que nos permite trazer para a realidade as nossas próprias convicções. Ela é o filtro de mundo inconsciente para o mundo exterior, ela é o entre mundos dentro do qual trabalhamos aqui e agora.
Se me permite extrapolar caro leitor.... faço o comparativo da consciência como uma espécie de portal que permite que chegue ao mundo apenas o cognoscível daquele oceano primitivo que é o inconsciente.
Abstraio o conceito de inconsciente como se fosse uma dimensão espelho, no qual restam todos os pequenos fragmentos observados pela mente consciente em um caldeirão de símbolos, conceitos, sentimentos, traumas, complexos, recalques, potenciais, latentes, deuses e deusas; tudo que é, será ou foi dentro da alma; o próprio Caos Cósmico dentro de nós. E isso tudo é filtrado pelo consciente.
Ora, não apreenderíamos jamais a complexidade do inconsciente visto que proponho que este está em constante expansão tal como o universo físico, impulsionado por uma energia escura de origem desconhecida.
E o consciente é um pequeno foco de luz nesse mar de coisas belas e selvagens, luminosas e também perigosas. É como tentar ver todas as estrelas com um único telescópio amador.
A LIBERDADE AGORA ME PARECE SER ALGO INTERNO.
- Eu adoro como o Bukowski fala de coisas profundas de maneira chula (risos).
Me vejo hoje pensando na liberdade como uma coalisão entre a vontade mais profunda em seu coração e o mundo ao redor. A razão entre essas duas coisas mostra o "caminho da liberdade".
No núcleo mais profundo do seu inconsciente, repousa ele, alguns chamam de Sagrado Anjo Guardião, outros de Deus, outros de EU SOU, eu empresto o termo da psicologia Jungiana e chamo de Self.
Neste recôndito lugar repousa o núcleo da estrela cintilante que brilha através de você, o self é a característica mais pura de quem você é. Ela é bela mas sua beleza reside não na estética, mas na potência, o self é extremamente poderoso e conectar-se a ele é a experiência mística dos grandes gurus, avatares e mestres ascencionados que ao longo de eras surgem na humanidade para lembrar do amor.
O contato com o self é brutal, pois ele é uma potência criativa da natureza, a partir dele nascem todas as figuras e estruturas do universo inconsciente interior. Sua beleza se compara ao poder de um vulcão que após arrasar a terra, fertiliza e propicia vida.
O caminho da liberdade nesta vida é orientado por este self, ele ensina a verdadeira vontade e dela nasce o amor pelo caminho. O amor pelo destino, amor fati de Nietzsche que nos leva à nossa melhor versão, super humano, parafraseando Assim falou Zaratustra.
Percebo que a liberdade idealizada de verdade não existe, é a crença em uma cerca invisível que não nos permite atravessar nossos próprios limites.
A vontade ilimitada não pode ser realizada pois existem restrições reais: condição financeira, vontade alheia, implicações legais etc...
A verdadeira vontade ela deve produzir amor.
Nenhum comentário:
Postar um comentário