sexta-feira, 28 de junho de 2024

He – A Chave do Entendimento da Psicologia Masculina de Robert Johnson. Resenha e reflexões pessoais.

He - A chave do entendimento da psicologia masculina.

Esse e outros textos que virão são frutos de uma concatenação de ideias que surgem após leitura de alguns livros. O livro escolhido dessa vez foi: He – A Chave do Entendimento da Psicologia Masculina.



Estive diante de alguns conflitos relacionados à ressignificação da minha própria masculinidade.

Curiosamente encontrei um livro jogado na minha estante. O título provocativo me chamou atenção, resolvi ler e agora compartilho um breve resumo e minhas percepções do livro.

O livro He – A Chave do Entendimento da Psicologia Masculina, mergulha no simbolismo arquetípico e das confusões de um jovem inexperiente retratados por o Parsival, filho do lendário cavaleiro Sir Lancelot, pertencente aos Cavaleiros da Távora Redonda do Rei Arthur.

Após a morte de seu pai em uma batalha, Coração Partido, a mãe de Parsival entra em desgosto e vai viver uma vida no campo, isolada da cidade. Parsival cresce e se torna um rapaz forte e belo, porém que possui inteligência e educação deficientes.
Um dia ao ver cavaleiros passando pelo campo fica encantando por sua altivez e presença e decide segui-los.

Antes de partir conta para sua mãe, que mesmo a contragosto dá a sua bênção e a orienta o jovem a: ir a igreja todos os domingos (claro né), tratar todas as mulheres com respeito e não fazer muitas perguntas onde fosse para que não fosse inconveniente.

Ouvindo os conselhos de sua mãe o jovem embarca em sua jornada, seguindo-os chega a Camelot e declara então aos Cavaleiros que ele também desejava se tornar um deles; estupefatos de ver tamanha pretensão de um jovem camponês rude, admitem leva-lo até o rei - que então o desafia com uma missão: derrotar o Cavaleiro Vermelho.

Aqui entramos em um primeiro ponto chave da história: a batalha com o Cavaleiro Vermelho, que era um cavaleiro inimigo do reino, já pertenceu à corte, porém tornou-se insubmisso e arrogante por ser extremamente habilidoso, era o manto que faltava para compor a Távola.  Era claramente uma missão suicida. Mas rude, impetuoso e cheio de juventude, Parsival vai até o cavaleiro e o desafia.

Em um dado momento da batalha, o cavaleiro vermelho se dando por vencido, provoca o jovem e comemora vitória, então Parsival o atinge no capacete, que revida descuidadamente, levando um golpe certeiro no coração.

No instante em que a gloria de Parsival é consagrada e o manto do cavaleiro vermelho passa a ser seu, o pequeno cavaleiro aprende o poder de sua coragem e frieza, ao não reagir às provocações feitas pelo cavaleiro vermelho. Uma das primeiras lições que todo homem deve aprender.

Recebido como cavaleiro na corte, Parsival recebe a mais nobre das missões - a Demanda, encontrar o Graal.

Antes de seguir sua procura, ele é encaminhado ao grande cavaleiro Gournamond, que o treina nas nobres artes da cavalaria e nas artes liberais.

Depois de meses, entediado com seu treinamento, Parsival solicita dispensa para que possa começar sua missão. Gournamond diz que ainda lhe falta treinamento, mas ansioso insiste em partir e é instruído por seu mestre  a quando finalmente encontrar o Graal fazer a seguinte pergunta: a quem pertence o Graal?

Gournamond representa o hierofante, o professor que passa os conhecimentos que talvez o jovem não tenha recebido do seu pai. No entanto... por ingenuidade, o descarta e acreditando que sabe o que precisa saber, algo característico mas fundamental para o desenrolar da história. 

Em um momento de descanso, após um dia inteiro de caminhada Parsival se aproxima de um rio e vê um pescador este parece triste, ele se aproxima inicia uma conversa, o pescador então diz ao garoto que foi ferido gravemente quando jovem - uma brasa queimou seus membros inferiores quando assava um peixe para comer pois havia-o deixado cair, assim o homem não poderia caçar e se contentava apenas a pescar. 

>> O rei pescador representa outro ponto interessante desse conto, de acordo com Johnson, “o homem que sofre, em nossos dias, é herdeiro direto deste evento psicológico” (p. 14). O Rei Pescador, ou o homem jovem, despreparado, é ferido pelo peixe da sabedoria. É sua primeira e fundamental ferida de individualização. O gosto do peixe, porém, ficará em sua boca pelo resto de sua vida. O garoto acidentalmente tropeça em algo que é muito grande para si. Ter deixado o peixe cair é sua vergonha fundamental. A dor triste, porém, necessária, é “dar-se conta de que o mundo não é feito só de alegria e felicidade, como pensava, e observar a desintegração de seu frescor infantil, de sua fé, de seu otimismo” 

 

Este pescador é o Guardião do Graal, mas Parsival não sabe disso. Parsifal entra no castelo e fica encantado, mas não se posiciona para tal, para fazer o que havia de ser feito. Afinal ele era jovem e estava com medo.

Na manhã seguinte o jovem deixa o castelo e vai em busca do graal, sem saber que esteve do lado dele toda noite.  

A alegoria expressa aqui é o graal de cada homem deixado de lado pela imaturidade, por negligênciar seu lado intuitivo que o alertava.

Esse ponto é reforçado por diversos outros trechos ao longo do livro. Onde finalmente depois de tantas voltas e pelo menos 30 anos mais velho, retorna só templo do graal.

 Sua sabedoria adquirida com a idade o trouxe de volta o pensamento errante infantil, a capacidade de ser perder para se achar.


Só que agora ele já sabia então o que fazer? Ou será que não sabia?


A história não termina com o cavaleiro retomando o graal mas sim se dando conta de que cada passo de sua jornada foi importante para que chegasse nesse local. 

A vida colocou em uma situação simples de se posicionar ou manter-se calado, 0 ou 1, agir ou não agir.

Eu espero de coração que você - assim como Parsifal, tomem então sua escolha de coração limpo. 


 

 

Caso Arquivado: a morte do herói.


A era dos heróis acabou ou não? Enquanto houver um propósito, uma chance de esperança para vida. Lá estarão os heroís? 

Talvez esses heróis precisem morrer para que assim eles se tornem algo que realmente funcione.

Algo que eles deveriam ser. Emblemas de um ideal. 

Isso me fez pensar, todo herói nasceu para morrer. É na morte que o herói se consagra como tal. Na entrega de tudo e da sua vida. Cada noite mal dormida, cada recusa e cada manhã de esperança. E finalmente no seu último ato.

O herói como ser vivente é atravessado pela pulsão voraz de seus próprios desejos, recalcando-os aos calabouços informes da mente. 

Seus desejos são anulados na morte, permanecendo a pura essência da existência do herói. 


Seu pacto de sacrifício o obriga a seguir em frente sem pensar na heresia profana jamais imaginada.

A de que seu ideal era uma mentira.

As mentiras são formas de sair pela tangente lógica, apresentando uma realidade inventada. Algo que satisfaça uma necessidade com qual não se quer lidar.

Heróis frequentemente se vêem pedindo desculpas; pois é a forma social de encarar o Erro Crasso de seu propósito. 

Talvez heróis tenham morrido pela reflexão de pessoas comuns que viram que já há batalhas de mais para lutar no dia a dia.

Uma luta a menos para trabalhador cansado já é uma guerra ganha. A guerra da sua paz.

As guerras só existem para que se haja a paz, mas não preciso comentar que nem todos tem o mesmo ideal de paz.

No esclarecimento das causas da guerra, a contradição da busca por paz é exposta. 

Como em uma autópsia, a causa está ali escancarada, cabendo apenas elocubraçõs sobre o fato incontestável do fim.

Talvez o que tenha matado o herói seja a consciência de sua finitude, o insigth insignificante de que sua pequena vida foi criar um propósito. 

Talvez o real propósito estivesse bem na sua frente o tempo todo. A consciência disso talvez tenha disparado mecanismos de autoproteção. 

Proteger a si mesmo talvez seja o que esse herói tenha a ensinar.

Mas isso são elocubraçõs de um processo arquivado. 

29.06.2024